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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Bicho-home

Nasci aqui mesmo e não pretendo sair tão cedo. Meus pais, Ravié e Mona, que Deus os tenha, fundaram esse vilarejo há uns quarenta anos – eu nem nascido era, meu pai! Papai foi homem de visão; percebeu que esse matagal tinha bicho chique: onça pintada, tamanduá bandeira e bicho preguiça. Naquela época, não precisava dessas coisas de papel passado, não! Bastava dizer no dente e o negócio não voltava atrás! Assim fez meu falecido – papai comprou todas essas terras sem um cruzeiro no bolso. Já tinha plano – pensa que não? Anunciou em tudo quanto é lugarejo "venha conhecer bicho importado: europeu, asiático e americano". A peãozada vinha de longe ver os animais, mas ninguém sabia diferenciar qual era o estrangeiro. Era aí que morava a ousadia do pai! Ele logo começou a oferecer cursos para ensinar a distinguir os supostos bichos de outros países. No começo nem minha mãe botou fé, mas logo, logo tinha uma bruta gente querendo descobrir a arte do bicho de fora. Papai começou...

o ar-intelectual-frustrado e os anseios mortíferos

O ar-intelectual-frustrado não consegue romper o amanhã e passa como ventos de Jó rumo à cruz de anseios paralisantes.

silêncio de dormir

a paralisia mortifica o ar do ser e faz do quê avassalador da vida um nada de sete palmas as pernas são para possibilitar um novo ângulo de visão!

Aforismo

Despreza-te a ti e serás como a água doce recusada pelo deserto. O excesso não satisfaz tanto quanto a falta também não o faz, porque da completude o esta-só abrutece, assim como do não-ser o devir rompe passagem. De onde se olha não é nunca de onde partiu o olhar. Da função escópica subjetiva não é possível ver o que se anela: o oposto já é invertido pelo filtro parcial dos meus desejos. A fantasia de mim é sempre uma imagem distorcida de ti, já que a máscara supostamente ideal é um além do olhar, um ponto do não-ser.

ritual silencioso

Nos diversos momentos de insanidade, o reino desabitado (vulgarmente habitado por substâncias disformes) toma espaço na subjetividade. Desde gente, gosto de contemplar o velho jornal de notícias de ontem. Gosto desse hábito, porque sou afeito a costumes e, óbvio, a parte da manhã aliada a notícias de ontem devolvem o sublime da humanidade - café preto juntamente com o delicioso caldo da cana integram o cenário. Sugo cuidadosamente um gole de café e, logo após, bebo um gole largo do caldo. Sempre o curto e profundo no mesmo plano! Nesse instante, não leio o jornal por inteiro; prefiro as frases esparsadas: ora na sessão de opinião, ora no esporte - o interessante é que sempre faço link com situações irreais. Meus pensamentos, apesar da tola tentativa de objetividade, funcionam como uma máquina repleta de parafusos soltos. Talvez seja por isso que eu tenha tanta relutância em escrever essas palavras. Não sei escrever como pedia a saudosa professora Joana. Coesão e coe...