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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

OFÍCIO-NENHUM-NÃO-É-PRA-QUALQUER-UM

Dou nó no Diabo, mas não engano uma criança. Crianças nasceram para enganar - são todas melhores que eu! Já o resto... Os mortais têm cor escura e fedem! Opa!... Não vou pelos filosofemas ignacianos, tenho meus próprios métodos. Tenho ofício-nenhum. Isso mesmo, nenhum! Muitos desempregados dizem estar fodidos, sem emprego, sem amigos... Dá tudo na mesma! Eu não, tenho meu ofício, que é nenhum. Explico: acordo todos os dias o horário mais conveniente, geralmente depois das dez. Em seguida, faço o que deve ser! Como, bebo, cago e transo comigo mesmo. Tudo que os mortais fazem e não dizem. Sobre meu ganha-pão, prefiro chamar de ofício aquilo que chamam profissão. Tenho nenhum e, mesmo assim, como caviar e bebo champanha. Aquilo que os mortais sonham, tenho como enfeite. É resto! Não conseguiria ensinar meu ofício para outrem, já até tentei! Para exercê-lo, não basta conhecer de pintura, carro, escola, ou coisa que o valha... É por isso que adoro assistir videocassetadas, sempre dizem...

BUCEIÇÃO

No início ela acompanhava o marido em todas as visitas aos fiéis. Pastor Rubem, o marido de Conceição, era um rapaz nada simpático com os homens, já com as mulheres, principalmente as mais jovens, ele tinha grande estima. Conceição conhecera o pastor num orfanato. Ela media um metro e meio e tinha pelos onze anos. Ele, homem formado, fazia orações quinzenalmente naquele lugar. Não se sabe exatamente a razão, mas Rubem passou a olhar a adolescente de forma mais contemplativa que as demais. Conceição não tinha traços que atraíssem a presença masculina, mas o corpo... O corpo de onze anos tem um quê de perversão! Os seios, basta mudar o tempo para despontar os bicos saltitantes. As pernas, torneadas naturalmente... Não há academia que dê conta daquilo. As demais fiéis do pastor Rubem começaram a perceber que Ceição estava recebendo um tratamento especial: não só ganhava frutas, doces, principalmente chocolates, como sempre era a primeira a ajudar o pastor nos momentos de apuros. Não de...

O PAU QUE FALTAVA

Nada melhor que acordar em casa depois de uma noite de bebedeira. O computador está livre, a mente já ressuscitou - não há nenhum pecado em mim agora! Meus dedos deslocam tranquilamente pelo teclado... Parece que a tão sonhada liberdade é atingida ao pressionar as teclas. Não há depressão alguma para quem aprendeu a se explodir, antes de se tornar imenso de futilidades. Ontem, as palavras foram interrompidas sem por quê. Há um verdadeiro diálogo em quarenta minutos? Entro em sua casa escura e demoro algum tempo (cinco minutos, talvez) para ligar o motor da fala. Não se trata de timidez, mas é que tudo ali parece artificial, um laboratório para a associação livre. Depois de romper a barreira terrível do silêncio, e vencer o olhar inquisidor do analista, nossa conversa acaba sem explicações, pior, levo sempre uma pergunta diabólica: onde está minha mãe? Por isso, preciso mesmo sair daquele espaço e procurar a fala livre dos bares. Não me é suficiente iniciar um diálogo com hora certa ...

ÀS ESCURAS

Decidi trabalhar como cabeleireiro. Não foi fácil comunicar minha nova vocação a todos. Digo nova, pois já trabalhava satisfatoriamente como carpinteiro, ajudando meu pai. Porém, fiz o que tinha de ser! Aprendi a nova profissão sem que ninguém suspeitasse, comprei os utensílios necessários com o meu próprio suor, e dei-me a aprender o novo ofício. As meninas gostavam de como fazia! E não demorou, em menos de um ano trabalhei o primeiro cabelo. Que frio na barriga... Era uma madame chata, insistente, mas pagava bem. Nós do salão - essa foi minha ideia - decidimos não colocar um valor específico, cada cliente pagava o que a consciência mandava. Engano pensar que pagavam pouco, geralmente eram ricas e gostavam de ser notadas - quanto mais pagavam, mais interessantes se julgavam ser! Algumas até que tentaram nos dar o calote, mas logo a dona do estabelecimento chegava, e, diante daquela presença ameaçadora, sempre recuavam. Judith, a dona do salão, era muito forte! Ela tinha o hábito de di...

psicografia viva!

Escrever é psicografar a alma! Com leves pinceladas de espiritualidade, sem perder jamais a tinta do dia-a-dia...

Em nome da MERDA, amém!

Minha mão está suja./ Preciso cortá-la./ Não adianta lavar./ A água está podre./ Nem ensaboar./ O sabão é ruim./ A mão está suja,/ Suja há muitos anos./ Carlos Drummond de Andrande, A mão suja Ignácio caminhava toda tarde pelo Parque Areião, mas naquele dia resolvera ir pela manhã. Era comum, durante a caminhada, encontrar colegas da faculdade, alunos e antigos professores. Geralmente, esperava um tempo antes de iniciar as quatro voltas, uma vez que adorava observar os garotões malhando e comentando sobre mulheres. Já tinha concluído que os tempos eram outros! No início, aquele lugar, que frequentava por indicação médica, era exclusivo aos homens. Entretanto, nos últimos anos, Ignácio percebera que as mulheres estavam tomando conta do pedaço, com uma diferença básica: comentavam sobre homens e mulheres, sem distinção de gênero. Ignácio, como todo mortal do século XXI, não só fazia caminhadas, como tinha uma vida social um tanto complexa. Na faculdade, ministrava aulas de lite...

OLHOS ABERTOS!

Vir à praça num domingo tem um brilho especial. Não é porque já começou a florir, ou pelos cachorros que, aliás, são sempre incríveis. Adoro flores e amo os cães, mas o que me chama atenção nos parques de domingo está em outra atmosfera, na órbita do que não se pode dizer, naquilo que não se compreende. O juízo extremado dos humanos me põe fim ao imenso prazer contemplativo dos jardins. Eles não sabem olhar: veem sempre o que está fora com o julgamento interno. Jamais conhecerão o doce olhar natural... Quando nasci, fui prometido em casamento à vizinha, melhor, à filha da vizinha, que até então não tinha nascido. Desde pequeno fui aprendendo a amar uma pessoa que não existia. Eu, como meu papai dizia, era alguém diferente de todos, pois já tinha aprendido a sentir. Mamãe falava que "Crianças levam tudo na brincadeira, já que quase ninguém as entendem". Entendo isso agora: os adultos geralmente não percebem que a fantasia revela aquilo que é difícil dizer, ou até impossíve...

E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto de Rubem Fonseca

"E eu dizia para ela que entre os requisitos (para ser escritor) devia ser incluída a coragem, a coragem de fracassar, a coragem de dizer aquilo que não pode ser dito, não importa a natureza do impedimento, a coragem de dizer aquilo que ninguém quer dizer, de dizer aquilo que ninguém quer ouvir - quem diz o que os outros querem ouvir, Mandrake, é a televisão, a coragem a que me refiro é a do Sade, que passou 27 anos de sua vida em asilos de loucos, Sade, que se manteve vivo duzentos anos não pelo estilo, mas pela sua coragem. Enfim, coragem de recusar todos os prêmios, ou melhor ainda, a coragem de não querer merecer prêmios, e o pior de todos os prêmios é a consagração em vida." E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto de Rubem Fonseca

O Poema do Frade de Álvares de Azevedo

Lancei-me ao desviver: gastei inteira/ Na insânia das paixões a minha vida./ Qual da escuma o fervor na cachoeira/ Quebrei os sonhos meus n' alma descrida./ E do meio do mundo prostituto/ Só amores guardei ao meu charuto!/ E que viva o fumar que preludia/ As visões da cabeça perfumada!/ E que viva o charuto regalia!/ Viva a trêmula nuvem azulada,/ Onde s'embala a virgem vaporosa!/ Viva a fumaça lânguida e cheirosa!/ Cante o bardo febril e macilento/ Hinos de sangue ao poviléu corrupto,/ Embriague-se na dor do pensamento,/ Cubra a fronte de pó e traje luto:/ Que eu minha harpa votei ao esquecimento/ Só peço inspiração ao meu charuto! O Poema do Frade de Álvares de Azevedo

A Inspiração Foge

A inspiração foge (e não há prédio algum pra eu me atirar!) De novo, a inspiração foge (e não há coragem que me atire dum prédio!) Ainda não, a inspiração foge (falta coragem e não sei nada sobre prédios) (não sei bem...) Basta, A inspiração foge!