O PAU QUE FALTAVA
Nada melhor que acordar em casa depois de uma noite de bebedeira. O computador está livre, a mente já ressuscitou - não há nenhum pecado em mim agora! Meus dedos deslocam tranquilamente pelo teclado... Parece que a tão sonhada liberdade é atingida ao pressionar as teclas. Não há depressão alguma para quem aprendeu a se explodir, antes de se tornar imenso de futilidades.
Ontem, as palavras foram interrompidas sem por quê. Há um verdadeiro diálogo em quarenta minutos? Entro em sua casa escura e demoro algum tempo (cinco minutos, talvez) para ligar o motor da fala. Não se trata de timidez, mas é que tudo ali parece artificial, um laboratório para a associação livre. Depois de romper a barreira terrível do silêncio, e vencer o olhar inquisidor do analista, nossa conversa acaba sem explicações, pior, levo sempre uma pergunta diabólica: onde está minha mãe? Por isso, preciso mesmo sair daquele espaço e procurar a fala livre dos bares. Não me é suficiente iniciar um diálogo com hora certa para acabar!
Depois da minha análise, acabei-me num bar no Setor Universitário - é difícil racionalizar os poderes que norteiam os mortais. Não posso deixar de dizer que parte da minha infância foi reencontrada entre os goles de cerveja. Tudo parecia uma pintura barroca (é como se para chegar à igreja tivesse, antes, que passar por um imenso labirinto!). Conversar com Viviane foi relembrar o tempo em que não havia beijos, mas havia amor de fato. A disputa de notas entre nós tinha o poder poético-sexual! Verdade de sexta série: só quem desconhece o amor, ama profundamente!
Viviane admitiu-se lésbica. Não sei o que dizer disso... Percebo nela o terrível medo de olhar para mim... É como se não quisesse assumir que um homem já mexeu ou mexe com ela. Não sei sobre os demais mortais, mas tenho certeza que a fiz pulsar de desejo - aquele desejo infantil de sexta série... Acho que nosso reencontro nos fez relembrar essas nuances. Talvez eu seja o caminho interrompido da heterossexualidade perdida de Viviane.
Segundo encontro... Fui a um bar aleatoriamente e pedi uma cerveja, como tenho o costume insano de andar em bando, o garçom trouxe vários copos. Após os primeiros goles reparei que a menina loura de olhos azuis (serão verdes?) estava logo à frente. Em nosso primeiro encontro, Viviane estava sentada na mesma mesa que eu, mas não a reconheci. Incrível, nossa mente esconde o quer lembrar! Contudo, a vida é senhora de si; traz o que foi esquecido para o seio da consciência de forma inusitada. Quanto ao primeiro encontro: Viviane me reconhecera e os dias adocicados vieram à tona.
Voltando ao nosso segundo encontro. O garçom nos trouxe cerveja e vários copos, minha mesa estava de frente à de Viviane. Durante boa parte da noite, nossos olhares entrecruzaram-se e pude sentir algumas coisas pendentes entre nós. Esperei bastante tempo – hoje entendo que a corrida só é boa quando se contempla a arquibancada. A hora certa chegou: Viviane levantou-se como se quisesse ir ao banheiro e, meio deslocada, deu a entender que só naquele momento teria me visto. Eu, que não queria interromper a fantasia dela, também encenei um grande susto. Você aqui?! Cumprimentamo-nos... Ela se esqueceu de ir ao banheiro e ficou em nossa mesa. Durante toda conversa era nítido que minha companheira-sexual-infantil não conseguia olhar diretamente a mim, o que me perturbou bastante. Fim de noite, fiz questão de levar Viviane em casa. Ela, meio embriagada, não parava de falar que era lésbica, contava detalhadamente as experiências sexuais com o mesmo sexo. Tentei, durante o percurso, olhar para os olhos de Viviane, impossível: sempre ocorria o desvio.
Depois do nosso segundo encontro, comecei a desejar obsessivamente Viviane. Tínhamos muito em comum, entretanto minha obsessão não passava por aí. Não sei bem, acho que eu pensava na dívida... Eu tinha que pagar a dívida! Viviante tinha me contado, não me lembro se no primeiro ou segundo encontro, que depois de mim ninguém mais a teria comovido, transara muito com mulheres, mas sem o entusiasmo da sexta série - dissera sem olhar nos meus olhos. Essa era a dívida! Em outras palavras, Viviane seria lésbica pela minha ausência. Não acredito em Deus ou Diabo, mas sei que há um pecado mortal: ausentar-se da vida de uma mulher quando ela ainda está em chamas. Sem opção, queria me livrar desse pesadelo... Passei a procurar Viviane. Sabia que ela trabalhava em um hospital, desses pequenos que atendem apenas o próprio bairro. Fui lá! Entrei para observar o recinto, porém logo uma moça parou e me perguntou se estava perdido, era Viviane. Não pude deixar de rir. Após ter superado o trauma, conversamos um pouco, o suficiente para marcarmos um encontro. Disse a ela que estava com câncer, em estágio terminal, e precisava desabafar – não há mulher no mundo que não se comova com essa história. Marcamos para o mesmo bar, Pamonharia - que por sinal, não vende pamonhas - nosso terceiro encontro.
O quarto encontro aconteceu onde havíamos combinado. Tomamos algumas cervejas bem geladas – ela gostava da Devassa. Você falou que tinha algo a me contar, o que é? Viviane foi direto ao assunto, sem rodeios. Limeitei-me apenas a dizer que ali no bar era complicado comentar essas coisas íntimas. Íntimas? Ela ficou meio assustada. Após alguns minutos de diálogo, ela topou ir ao meu apartamento para que pudéssemos conversar sossegadamente. Fomos...
Viviane estava um tanto desesperada. Ainda não conseguia olhar diretamente para os meus olhos. Abrimos um vinho português, Periquita – nunca vi piadas sobre vinhos portugueses, isso deve garantir uma boa qualidade dessas vinículas. Para que Viviane não se ocupasse dos serviços domésticos, ou, simplesmente, não pensasse que sou um homem machista, ou, ainda, para que eu pudesse fazer alguma coisa longe dos olhares dela, talvez, tudo isso junto... Levei as duas taças e o vinho para a cozinha. Enchi as duas taças e trouxe, um em cada mão - o vinho ficara na geladeira. Não sou homem bem previnido, não tenho sequer gelos em casa! Ela sorveu vagorosamente o líquido não muito gelado, enquanto eu bebia um pouco mais rápido. Estou cansada! Vou deitar... Apagou ali mesmo, no tapete. Peguei o corpo macio de Viviante, levei-o ao quarto e tirei-lhe toda a roupa. Tinha uma tesoura perto da cama que foi útil para cortar os utensílios que me separavam dela. Sem roupas, e muito excitado, devolvi a Viviane tudo que lhe faltava. Penetrei uma vez e gozei... Intenso e rápido! Depois de terminar, virei ao lado e dormi...
Ontem, as palavras foram interrompidas sem por quê. Há um verdadeiro diálogo em quarenta minutos? Entro em sua casa escura e demoro algum tempo (cinco minutos, talvez) para ligar o motor da fala. Não se trata de timidez, mas é que tudo ali parece artificial, um laboratório para a associação livre. Depois de romper a barreira terrível do silêncio, e vencer o olhar inquisidor do analista, nossa conversa acaba sem explicações, pior, levo sempre uma pergunta diabólica: onde está minha mãe? Por isso, preciso mesmo sair daquele espaço e procurar a fala livre dos bares. Não me é suficiente iniciar um diálogo com hora certa para acabar!
Depois da minha análise, acabei-me num bar no Setor Universitário - é difícil racionalizar os poderes que norteiam os mortais. Não posso deixar de dizer que parte da minha infância foi reencontrada entre os goles de cerveja. Tudo parecia uma pintura barroca (é como se para chegar à igreja tivesse, antes, que passar por um imenso labirinto!). Conversar com Viviane foi relembrar o tempo em que não havia beijos, mas havia amor de fato. A disputa de notas entre nós tinha o poder poético-sexual! Verdade de sexta série: só quem desconhece o amor, ama profundamente!
Viviane admitiu-se lésbica. Não sei o que dizer disso... Percebo nela o terrível medo de olhar para mim... É como se não quisesse assumir que um homem já mexeu ou mexe com ela. Não sei sobre os demais mortais, mas tenho certeza que a fiz pulsar de desejo - aquele desejo infantil de sexta série... Acho que nosso reencontro nos fez relembrar essas nuances. Talvez eu seja o caminho interrompido da heterossexualidade perdida de Viviane.
Segundo encontro... Fui a um bar aleatoriamente e pedi uma cerveja, como tenho o costume insano de andar em bando, o garçom trouxe vários copos. Após os primeiros goles reparei que a menina loura de olhos azuis (serão verdes?) estava logo à frente. Em nosso primeiro encontro, Viviane estava sentada na mesma mesa que eu, mas não a reconheci. Incrível, nossa mente esconde o quer lembrar! Contudo, a vida é senhora de si; traz o que foi esquecido para o seio da consciência de forma inusitada. Quanto ao primeiro encontro: Viviane me reconhecera e os dias adocicados vieram à tona.
Voltando ao nosso segundo encontro. O garçom nos trouxe cerveja e vários copos, minha mesa estava de frente à de Viviane. Durante boa parte da noite, nossos olhares entrecruzaram-se e pude sentir algumas coisas pendentes entre nós. Esperei bastante tempo – hoje entendo que a corrida só é boa quando se contempla a arquibancada. A hora certa chegou: Viviane levantou-se como se quisesse ir ao banheiro e, meio deslocada, deu a entender que só naquele momento teria me visto. Eu, que não queria interromper a fantasia dela, também encenei um grande susto. Você aqui?! Cumprimentamo-nos... Ela se esqueceu de ir ao banheiro e ficou em nossa mesa. Durante toda conversa era nítido que minha companheira-sexual-infantil não conseguia olhar diretamente a mim, o que me perturbou bastante. Fim de noite, fiz questão de levar Viviane em casa. Ela, meio embriagada, não parava de falar que era lésbica, contava detalhadamente as experiências sexuais com o mesmo sexo. Tentei, durante o percurso, olhar para os olhos de Viviane, impossível: sempre ocorria o desvio.
Depois do nosso segundo encontro, comecei a desejar obsessivamente Viviane. Tínhamos muito em comum, entretanto minha obsessão não passava por aí. Não sei bem, acho que eu pensava na dívida... Eu tinha que pagar a dívida! Viviante tinha me contado, não me lembro se no primeiro ou segundo encontro, que depois de mim ninguém mais a teria comovido, transara muito com mulheres, mas sem o entusiasmo da sexta série - dissera sem olhar nos meus olhos. Essa era a dívida! Em outras palavras, Viviane seria lésbica pela minha ausência. Não acredito em Deus ou Diabo, mas sei que há um pecado mortal: ausentar-se da vida de uma mulher quando ela ainda está em chamas. Sem opção, queria me livrar desse pesadelo... Passei a procurar Viviane. Sabia que ela trabalhava em um hospital, desses pequenos que atendem apenas o próprio bairro. Fui lá! Entrei para observar o recinto, porém logo uma moça parou e me perguntou se estava perdido, era Viviane. Não pude deixar de rir. Após ter superado o trauma, conversamos um pouco, o suficiente para marcarmos um encontro. Disse a ela que estava com câncer, em estágio terminal, e precisava desabafar – não há mulher no mundo que não se comova com essa história. Marcamos para o mesmo bar, Pamonharia - que por sinal, não vende pamonhas - nosso terceiro encontro.
O quarto encontro aconteceu onde havíamos combinado. Tomamos algumas cervejas bem geladas – ela gostava da Devassa. Você falou que tinha algo a me contar, o que é? Viviane foi direto ao assunto, sem rodeios. Limeitei-me apenas a dizer que ali no bar era complicado comentar essas coisas íntimas. Íntimas? Ela ficou meio assustada. Após alguns minutos de diálogo, ela topou ir ao meu apartamento para que pudéssemos conversar sossegadamente. Fomos...
Viviane estava um tanto desesperada. Ainda não conseguia olhar diretamente para os meus olhos. Abrimos um vinho português, Periquita – nunca vi piadas sobre vinhos portugueses, isso deve garantir uma boa qualidade dessas vinículas. Para que Viviane não se ocupasse dos serviços domésticos, ou, simplesmente, não pensasse que sou um homem machista, ou, ainda, para que eu pudesse fazer alguma coisa longe dos olhares dela, talvez, tudo isso junto... Levei as duas taças e o vinho para a cozinha. Enchi as duas taças e trouxe, um em cada mão - o vinho ficara na geladeira. Não sou homem bem previnido, não tenho sequer gelos em casa! Ela sorveu vagorosamente o líquido não muito gelado, enquanto eu bebia um pouco mais rápido. Estou cansada! Vou deitar... Apagou ali mesmo, no tapete. Peguei o corpo macio de Viviante, levei-o ao quarto e tirei-lhe toda a roupa. Tinha uma tesoura perto da cama que foi útil para cortar os utensílios que me separavam dela. Sem roupas, e muito excitado, devolvi a Viviane tudo que lhe faltava. Penetrei uma vez e gozei... Intenso e rápido! Depois de terminar, virei ao lado e dormi...
Definitivamente, Intenso.
ResponderExcluirKaren Regner
Parabens por conseguir traduzir, o que é uma Análise Lacaniana... ótimo o segundo parágrafo, bem como todos os demais.
ResponderExcluirMarcão, muito legal as suas colocações quase metafóricas, devassa, perequita. A pamonharia que nao vende pamonha é a da UFG?Esse conto terá sequencia?Quero saber se a Viviane deixara de ser lésbica. Não sei a que tanto é esse lesbianismo, se é uma homossexualidade mesmo ou simplismente homoafetividade,ambas desencadeadas por sua ausencia ou outros fatores
ResponderExcluirÉ essa pamonharia mesmo. Nós que passamos por lá bem sabemos que a última coisa do mundo a vender ali é pamonha, né?! Não sei sobre a sequência desse conto... acho que para aqui mesmo. Mas o legal é podermos pensar na subjetividade da personagem "Viviane". Por que ela insistia tanto em dizer que era lésbica? Por que ela não conseguia olhar nos olhos do narrador-personagem?... Bom é fazer o que você faz, Marco, pensar sobre essas questões... grande abraço! é bom tê-lo por aqui!
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