Profissão?

Ela chegou ao pronto-socorro aturdida. A mãe estava internada, quebrara o fêmur. Entrou sem olhar em volta, procurou o balcão e apresentou a documentação à secretária:

- Joana é a senhora? Perguntou a funcionária sem tirar os olhos do documento.
- Não, é minha mãe.
- Sobre o que é? Continuou a chuva intempestiva de indagações.
- Minha mãe está internada aqui, quero visitá-la.
- Ah, sua mãe é Dona Joana! Faltam cinco minutos para as visitas. Sua mãe deu entrada aqui tão rapidamente que não pude preencher alguns dados dela. Solteira ou casada?
- Quê?! Tem que ser agora?
- Sim. Sua mãe é solteira ou casada?
- Não, não sei. Coloca "outros".
- Profissão?
- Minha?
- Não, da sua mãe!
- Não sei!
- Como assim? A profissão da sua mãe, qual é?
- Não, não sei.
- Ela faz o quê?
- Muita coisa.
- Mas é do que ela trabalha. Ela faz o que de segunda a sexta?
- Acorda, come, bebe, briga e dorme. Já posso ir lá? Já passaram bem mais de cinco minutos.
- Não, não pode entrar sem responder a profissão de sua mãe. Profissão?
- Sei lá! Professora,  artista, a puta que pariu... nada disso é profissão, não é?! Coloca puta que nem sua mãe!

Tomou as papeladas, documentos e entrou pela porta de visita já aberta. Ah, e não se esqueceu do dedo médio erguido para a recepcionista.

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