Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2011

TERCEIRO OLHO

            À janela de domingo, dou-me à arte da observação novamente: as mesmas sandálias aos pés, a camiseta, um tanto desgastada pelo poder do tempo, e defronte ao cenário perdido. Há bastante tempo, observei os meus vizinhos, e escrevi compulsivamente algumas histórias – inclusive fiz a árvore genealógica da traição, buscando relatar as relações extraconjugais entre os moradores do edifício Mares do sul , onde moro até hoje. Cheguei à luz de reflexões profundas a partir dessas olhanças, e publiquei meu primeiro livro, ainda aos dezessete anos: Relações pervamistosas . Não parei por aí: sempre o mesmo cenário, as mesmas observações, e os vizinhos, embora diferenciados, praticando as velhas relações dos antepassados. Não podia ser diferente! Os moradores do edifício Mares do sul passaram a protestar contra o fim da privacidade. Nos diversos livros publicados até os vinte e cinco anos, eu procurei não censurar nenhum nome, não...

Eu vi satanás

A água entornada tinha gosto de santidade diabólica. As árvores imponentes rompiam o azul celeste enquanto um velhinho comprava bolacha água e sal à mercearia, dona Bárbara contava as duas notas de cinco e Gabriela pagava pelo pão e manteiga. Acompanhada pela sua pinta no rosto acima da boca, pensamentos invadiam a pequena: "Claudia Leite vai se condensar ? " Em tudo: ele, eu... o diabo!

Eu vi deus!

Nessa manhã eu vi deus era todo ele, deus azul como olhos de janela verão. Reafirmo: eu o vi e estou completamente convencido porque "dúvida" não há no meu dicionário pagão! Tomei meu café - com bolachas água e sal ainda à mesa, abri uma partida antiga de xadrez e, como num instante inapreensível,  senti a ternura do lance sagrado, deus de café enfumaçado, deus de bolacha e água e sal, deus! À janela, de correr tanta chuva ensurdecia qualquer incrédulo, deus as águas pelas frestas,  os livros encobrindo os ladrilhos, deus! Num chão de livros (a bíblia está fechada!) bebo meu azeite matinal e revejo meu tabuleiro as vidas sem peças, hoje, estão repletas de um torpor infantil!

Conto sem fados

Um dia belo belo como reza o senso comum belo de ignorância um belo conto de fadas Hoje é dia de olvidar a alienação é a arma perfeita para as almas vãs hoje é dia de beleza toda beldade é resumo de mim! Hoje não é dia de duvidar é só dia, dia de hoje!

Passou!...

Agora, passou! Podem exigir mais atenção, mais educação. Porque minha tensão se foi num segundinho de Tesão, o suspiro de ontem.

Mata virgem

Vou à selva do desejo avalizar meu próprio querer. Porque das artilharias do matagal, essas reservas de odor macabro, formei as primeiras trincheiras dos anais do tempo. Vencida a batalha, ainda que fatigado, sigo a seta da alma, à mata selvagem do cu. Ao poeta Shunnoz, o pensólogo angolano.

Pornogramas gozados

Diversas bundas (e confesso a beleza de algumas, poucas!) mas a bunda, bunda de melancias globais, de tão grande, vi o cinza-cifrão do silicone. Era só mais um pornograma infantil da noite: um grama de ouro uma descidinha dois gramas uma dedadinha ai, três gramas e já está toda atoladinha Desligo a televisão: "que tantas mulheres gozadas!"