Funeral na linha: olha o gol!

Pedro aguarda o amigo
um amigo visto pela primeira vez
cinco e meia, seis, sete, oito e nada

- Ei, fio, meu menino já vem, sossega! - uma mulata dos quarenta grita da varanda. O rapazote aparece sem muita crença no jogo.

- Oi!

-Qual é o seu nome?

- João Marcos.

Sem palavras, a bola dança sem reclamar: de um lado a outro - um novo enfeite. Letra, calcanhar... A bola se enfeita toda e vai ao encontro dos pés descalços. Como um capoeira que não cai, que ginga sem atacar verdadeiramente, a bola procura o pé amigo. De tênis, descalço, de letra, calcanhar...

- Ah, vamos ficar só assim? Pergunta Pedro, como quem diz que mesmo aos cinco era tão bom quanto o rapazote de oito anos - queria desafios. A bola amiga, então, passa à trapaça, ao drible brasileiro. A angola já regional!

-Qual é o seu nome, hein?

-Quê? Ah, Pedro Rafael.

-Joga no gol, Pedro? Eu já quase fiz um gol de bicicletinha, sabia?!

O caçador procura a toca. Toca a bola para si mesmo rumo ao gol. E a permuta é feita eternamente: do gol à linha, da linha ao gol.

Ah, lá fora a avó de um é enterrada.

(Em memória de minha tia-avó, Cristina, 07 de setembro de 2012, em Sanclerlândia-GO)

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