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Mostrando postagens de novembro, 2013

epitáfio vivo

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Os olhos são epitáfios vivos "Aqui jaz um troglodita!" Perfura a tumba para inscrever o que há além do corpo VERMES Ferve intransigente n' alma um quê de desatenção O nó do corpo camaleão não reflete as retinas E mesmo com toda pompa lixo roupa caixão funeral casamento luxo... os olhos já denunciam lixo humano A leitura do espírito não se apresenta como obra do senhor as  vistas são de quem ama a desilusão o ócio o louvor do nada

Quer casar comigo?

A palavra advém da cumplicidade do ridículo - Quer casar comigo? Ainda não. A palavra vai rumo à plateia delirante. Os convites, portanto. - Vamos, Japa! É casamento... vou morrer de rir. O Japa vai, a Brenda, o João, o Manuel, Junhia, Rafaela, Wirna Vilma Gil A plateia sustenta o circo do sentido anunciado. Vejam, agora estão todos embriagados Vinho Champanha Cerveja Pinga Sob a égide da droga E a glória das palmas (risos e comilança e buquê) Um novo delírio se forma

olhos fechados

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Um olho aberto azul preto verde insano ou medicinal um olho pisca enquanto o outro permanece aberto os olhos se fecham por alguns milésimos de segundo Os olhos abertos, agora é porto a um inseto que pousa, descansa As duas asas se movem uma aquieta-se enquanto a outra move-se Os olhos abertos O inseto ameça voo mas não assusta os olhos, nenhum Por um segundo, as duas asas permanecem estáticas em seguida, o inseto alça voo e os olhos (agora com alguma lágrima acumulada) fecham-se para não mais abrir naquele asfalto quente.

Jotinha e a completude

        Jotinha entrou na confeitaria e pediu o primeiro bolo (recheado de doce de leite). Sem demora, comeu um, dois, três pedaços. Ainda, buscou uma garrafinha de coca cola (sem rato, mas repleta de formigas), bebeu e comeu. Levantou-se com a formiga no estômago (o bolo e o refrigerante davam voltas) e pediu ao garçom - balconista, porque em confeitarias não há aqueles que servem à mesa:       - Ainda estou com fome. Pode me ver esse bolo maior? Pegaram uma boa fatia do bolo, e ele, ainda no balcão, engoliu o suculento pedaço. Voltando-se ao balconista, antes mesmo que um novo pedido fosse feito, Jotinha sentiu aflorar por entre as pernas gases ininterruptos. Diante da repressão, a boca abriu-se num violento e estrondoso arroto.           Conseguiu com muito custo fazer um novo pedido: ainda com um bolo na mão, passou a ouvir vozes que repetiam incessantemente "doce, leite"... "leite, doce".... Mas antes mesmo que ...

licor sorvido

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Escrevo despossuído de ideias. Qualquer gole fortuito, na mente de outrem, é capaz de acender uma centelha. Mesmo não nutrindo estima alguma as faíscas se difundem sem porquê. Recebo uma ligação: um aperto de mão, uma piscadela. Recordo, enfim, de que ali houve lição mesmo aonde olhos não puderam alcançar.                                                        o licor é um já-dito sorvido por todos que se julgam pioneiros! É preciso antecipar, prever, ainda que sem nenhuma garantia, o passo dado pelo homem o dito que fora dito em milhões de palavras alheias. Desprovido de sentido, porém, às portas do ouvido insisto sem pestanejar.

soneto (insustentável) de amor

Em Buenópolis, tempo que não me deixou passo dois dedos sobre a sobrancelha direita e não reparo nas minhas dúvidas já que a incerteza fora a única marca dos anos Mas sob a sobrecasaca e abaixo das sobrancelhas uma certeza quer abrigar meu crânio minha ossatura, meus nervos, sangue e não se trata de pouca de coisa, vergonha A certeza como um soneto mal escrito que deixa traços sem métrica, rima certamente, uma forma de sonhar Na falta de vergonha, de abrigo constante, crânio uma razão ultrapassa as grades dos olhos a insustentável forma de tremer: amor

medo de agonizar

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Os ruídos desenham músicas intranquilas, no desassossego de quem partilha um pouco de agonia como aranhas nas teias, que formam novos pontilhados agonizantes, só Um olhar que não descreve desenha postula pontua seu olhar de lugar nenhum advém nem detém alternativas Quando, diante de telas teias tendas a exatidão por uma porta passar a fenda deixada será a única marca da incompletude São ventos pobres aqueles que sugam da vida o medo de agonizar

Cucuia inveterada

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O que escrevo não é de hoje nem será lido amanhã o que escrevo é obra de um vendaval perpétuo inumano invertebrado. Não busque aqui seu mal-estar ele estará na linha tênue no desague desmame desarme de tudo quanto há entre ti e o outro Não tenho em mim o amor do mundo nem o ódio a indiferença tem um tom fósforo (queima o que é inveterado!) Não passe os olhos nos meus versos aqueles que carregam plumas e não reconhecem o plano sangrento de si Que vá às cucuias! que me deixem (versos) quietos como os pássaros pousados no fio da estação não vou explodir Deixem aos cães quem nasceu CANINO

oceano que minha teia flutua

meus cabelos já ensandeceram buscando explicações em deus diabos... mitos novos criados mais um fracasso daquele de quem duvidei aquele por quem nutri ataques e não me deixa de ser desastre deus é a maior rebeldia esse ateísmo é só um oceano onde flutua as minhas teias

um ano depois

Na volta tudo o rio arrasa um ano depois das mesmas palavras as mesmas palavras ausência é só um dito de outrora ontem havia uma esteira, fábricas febris na minha áurea, no meu porvir um lance de além (do quê que ruge sem palavras) - torno-me humano e vertebrado a esteira da fábrica rola peças de vários motores vapt vupt, vapt vupt uma senha, um passo... vapt vupt, vapt vupt uma senha, um passo no outro dia, depois de um sono dormido um novo baile, um novo curso e lá! Ele presentificado no sem porquê do nada.