ordem natural das coisas

lá fora
ruas rangem dentes cariados
afiados, prontos a mastigar pele aristocrática ou plebeia
ônibus desfilam ao caos
entortam avenidas, enquanto bueiros de gente transbordam

os parasitas, velhos parasitas
homens e mulheres
desgovernantes que desviam rotas naturais
destroem postos primitivos de trabalho
e não arredam o pé da merda-capital

eu
nessa singela casa
em-sábado-de-gozo
numa cama amiga
sinto ranger unhas felinas no estômago - estou vivo!
vejo corpos que gemem estirados sofá adentro

há humanidade suficiente ainda
exige presença e clama passagem
esquenta cada homem derretido
a história que retorna num redemoinho
volta fazendo um novo curso
alheio ao mundo, e natural a ele

nessa casa-sossego
as janelas estão abertas
como cão sem dono
ou num suicídio coletivo
as ideias são arremessadas a cada gole de álcool
propagam, bueiro a bueiro...
alimentando olhos, um tanto ébrios, mas sedentos de humanidade





Poema dedicado ao apartamento-casa de Heliany, grande amiga, a Renato, Ariel e Guilherme. Também, a gloriosa manifestação ocorrida na noite de caos (ou ordem?) de ontem (20/05/2011), no terminal Padre Pelágio.

Comentários

  1. tua sensibilidade faz os momentos ficarem ainda mais especiais. pra que foto pra registrar? álcool, política e poesia: que combinação!
    renato regis.

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  2. Marcão,
    amei esse poema, mas principalmente porque você parece que sente os meus momentos baixos e sempre aparece ou liga para levantar minha moral.
    Que noite massa! Plena de poesia! Amizade sincera e profunda!
    Amigão, valeu!
    Portas e coração sempre abertos pra ti!
    Heliany

    ResponderExcluir

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