Tio dilatado

Ela tinha lá seus dotes. Não era bonita nem feia. Ainda quando pequena, acostumara a tirar a nota suficiente para passar, nem mais, nem menos. Alfrásia venceu certa etapa da vida, a vida escolar, com a necessidade de ter o necessário: pegava o ônibus escolar às cinco da manhã e lá se ia mais um dia. Morar no campo tem dessas coisas. A professora reclama de quando em vez da preguiça da menina, mas ela era pouco preguiçosa. Na verdade, a falta de sensibilidade dos professores parece dar margem a certas falácias. Alfrásia queria mesmo é aguentar o tempo obrigatório de classe para voltar ao sítio.

O pedaço de terra era de um tio distante, e havia sido arrendado para o pai de Alfrásia. Toda vez que os parentes (os donos da terra) vinham passear a coisa agitava. Aos nove, a menina não esquece dessa história, os tios afortunados vieram para mais uma visita e Alfrásia lá tomava o café da tarde. Já tinha ido à escola pela manhã e feito as obrigações do lar, aproveitava para sorver o café morno. As louças precisavam ficar brilhando ou a vara cantava perna a fora. O pai da garota, Seu Lancho, costumava dizer que café quente estraga a voz - era mesmo o sonho do pai ver Alfrásia, filha única, cantando como os filhos de Francisco. Cantar, cantar, a menina não gostava, melhor, não sabia se gostava de verdade. Essas coisas de abrir a garganta era um tanto ameaçador (o café quente queima as cordas vocais, mas boca fechada não entra mosquito).

Alfrasia tomava café morno quando os tios de dinheiro chegaram: o dia inesquecível. Foram logo na garrafa de café. O primeiro, tio João, o único que havia realmente dinheiro, os demais apenas o parasitava, cuspiu longe o café, café morno, desgraça! Dizer mesmo o que, tio... A menina consentiu com a cabeça em silêncio. Sempre que vinham visitar a família de Alfrásia, eles traziam alguma coisa para o pai. Esse era um costume naquela região, nada de muito valor, apenas algo que demonstrasse certo apreço pelo anfitrião. Dessa vez, o pai da garotinha ficou surpreendido por receber uma arma calibre 22. Afasta mal olhado, Lancho! O problema daquela região era o demasiado roubo a gados.

Esse dia não era mesmo para ser esquecido: Alfrásia, depois da partida dos visitantes, sentou-se ao colo do pai. Ela tinha uma maneira própria de sentar-se. Geralmente ela se sentava apenas em um lado da perna do pai, ali ficava horas a fio. Esse dia, porém, a curiosidade deixou um traço na pata de Jovinha, o cachorro da família. Ainda no colo, um disparo calibre 22, uma pata quebrada.

Jovinha não conhecia desonestidade. Sabia mesmo que a culpa não era da menina ou do pai. Entendeu que aquele era um momento de dor, curtir como se faz ao queijo. Jovinha ficava deitado olhando os queijos descansando; foi descansar.  A família adorava o cãozinho e cuidaram como puderam dele. A pata, entretanto, ficou marcada tanto a Alfrásia quanto ao mancar do cão. A partir daí, Jovinha e Alfrásia permitiram-se um contato mais intenso, mas próximo.

Era o dia da formatura de Alfrásia. As pessoas daquela região, em torno da Cidade de Goiás, não tinham hábito de finalizar o Ensino Médio. Alfrásia estava ansiosa porque todos os familiares iriam vê-la. Aquele dia, ela não ia precisar ir de ônibus, o tio a levaria no carro. Era como sonho, sonho de um casamento próspero ou uma festa de quinze anos, essas festas que mobilizam toda a família e a vizinhança, a garota ansiosamente não parava de locomover-se (quarto-sala-banheiro), nenhuma palavra: ela movimentava-se. Na frente do velho espelho trincado, encenava o momento exato de receber o diploma. Na família apenas três pessoas conseguiram passar por aquilo, uma façanha familiar.

 Esses rituais são mesmo interessantes, infelizmente nem todos os cães conseguem compreender. Jovinha estava triste, escondia e aparecia tentando dizer algo. Algo como um tiro, algo que o fizesse mexer as patas de forma de diferente. Alfrásia pouco compreendia o que acontecia com o companheiro de afeto, o cão. Ele procurava fazer-se claro... À frente do espelho, o cachorro tentava disputar espaço com a garota, escorava na perna dela e a empurrava. Nada. A festa aproximava e os convidados (o tio rico principalmente, claro) já estavam próximos. Era óbvio que trariam presentes, algo que a agradasse mesmo sendo de pouco valor. A tia Joana sabia fazer renda, traria algo do gênero, talvez. Perguntava-se o que de fato gostaria de receber: nenhuma resposta. O latido do cão, um latido.

Alfrásia não queria deixar Jovinha ali, solitariamente. Ela foi ao encontro do cão (perto do espelho da sala) e o levou ao quarto dela. Aproximaram-se, e Alfrásia passou a prever como seria aquele dia. Que presente ganharia do tio rico? O rosnava a cada palavra. Alfrásia não estava disposta a fazer essas coisas naquela hora, mas Jovinha já se manifestava com a força característica dele. Jovinha já estava claramente excitado e Alfrásia, diante de tanta expectativa para aquele dia, julgou necessário aquela entrega, naquele momento. A moça levantou o vestido e abaixou a calcinha. O cão, já sabendo o rumo de casa, penetrou várias vezes a moça. Depois de algum tempo, o pênis de Jovinha dilatou bastante de modo a não sair da vagina de Alfrásia, enquanto os familiares gritavam por Alfrásia:

- Seu tio chegou, menina!

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