Postagens

Mostrando postagens de julho, 2011

déjà vu

Amou sua mulher como se fosse a última Chico Buarque, Construção . Tinha ido ver a obra que iniciara há três meses. Sr. de Montensor, de uma frutífera linhagem de condes franceses, estava investindo em construções prediais no Brasil. Ele, que há muito tinha trabalhado no mercado ilegal de armas, percebeu que o dinheiro seria melhor aplicado em construções prediais. Não foi à toa essa decisão. Sr. de Montensor tinha feito vários amigos durante o período de contrabando, esses, vieram a formar o Partido dos Trabalhadores. Nesse ramo estatal não é preciso contrabandear! Os companheiros  facilitaram tudo, licitação e documentação, deixando o conde em doces lençóis. Viu a obra gigantesca no centro de Belo Horizonte - no projeto fariam apartamentos populares, mas preferiram construir um novo palácio à prefeitura. Satisfeito, Sr. de Montensor retornou à sua casa, ainda antes do jantar. A esposa, Rosa Guerra, era mulher de boa índole, brasileira, e gostava de ler os clássicos, em especi...

velho de novo

mexe remexe de novo o novelo velho de novo

Quadro: "Jesus de Nazaré"

vou pintar jesus um ser ateu de barbas grandes e cabelos crespos pelos pubianos grisalhos e dentes por escovar humor-macaco de puta velha bêbada senta-se como quem se dedica ao vaso, horas a fio concentra-se como um pobre jovem que sonha comer, enquanto se come ele, magnânimo filho de deus, está sentado perto duma cruz porque adora dois paus grandes cruzando ele, magnânimo filho de deus, está ao lado de bandidos pois se deleita em prazeres sádicos Jesus, não satisfeito com os corpos de sua época, assistido pelo mundo voyeur antes de cristo ele, anticristo preferiu a morte num gozo eterno insatisfeito e ressuscitado está, hoje, aqui!

Justa saia

Não me coloquem em saia justa até gosto de saias mas em mulheres

Às 16:13h.

Acordava sempre no mesmo horário, às 06:15h. Saia às 06:55h., e tomava o posto de trabalho uma hora e cinco minutos depois. O almoço era rápido, uma hora apenas de intervalo. Ainda de barriga de cheia, retornava meio dia à labuta. Era operador de máquina de escrever. Sim, todos os textos daquela editora eram digitados à máquina! Os trabalhos se davam por completos às 16:00h., quando voltava para casa a pé. Luiz Antônio Ferreira saíra aquele dia cinco minutos antes do planejado. Deu voltas pela Praça Joaquim Ribeiro , fingiu falar ao telefone público, deixando passar os minutos que sobravam, e tomou resoluto o caminho tradicional. Passou pela Rua Madre Sá , e entrou na penúltima ruela que antecedia a da sua casa. Andava,  naquele instante, exatamente como nos dias anteriores, passos firmes, olhos num ponto fixo, mas sempre observando de soslaio os cachorros. Quando criança havia levado uma terrível mordida de um canino sem-nome-sem-raça, marcara profundissimamente aquele rapaz....

nu-nada

É risco de queda de brilho de tudo É de Sade o doce amargo nu-nada

falo às mãos

toma o talo em suas mãos sobre a pia resvala os excessos das pestes e da podridão toma o talo em suas mãos sobre a pia deixa agir o vinagre e o limão toma o falo em suas mãos sobre a cama faça ruir toda contradição toma o falo em suas mãos sobre a cama ou a pia ponha a zunir o seu trovão

Feira livre

Eu que não tenho medo de ousar contar, cantar, tagarelar Vou dizer mais uma vez que do acaso todo mundo é freguês

Profissão?

Ela chegou ao pronto-socorro aturdida. A mãe estava internada, quebrara o fêmur. Entrou sem olhar em volta, procurou o balcão e apresentou a documentação à secretária: - Joana é a senhora? Perguntou a funcionária sem tirar os olhos do documento. - Não, é minha mãe. - Sobre o que é? Continuou a chuva intempestiva de indagações. - Minha mãe está internada aqui, quero visitá-la. - Ah, sua mãe é Dona Joana! Faltam cinco minutos para as visitas. Sua mãe deu entrada aqui tão rapidamente que não pude preencher alguns dados dela. Solteira ou casada? - Quê?! Tem que ser agora? - Sim. Sua mãe é solteira ou casada? - Não, não sei. Coloca "outros". - Profissão? - Minha? - Não, da sua mãe! - Não sei! - Como assim? A profissão da sua mãe, qual é? - Não, não sei. - Ela faz o quê? - Muita coisa. - Mas é do que ela trabalha. Ela faz o que de segunda a sexta? - Acorda, come, bebe, briga e dorme. Já posso ir lá? Já passaram bem mais de cinco minutos. - Não, não pode entrar sem responder a prof...

Tomou na taça errada!

Tinha construído as relações conjugais de forma um tanto estreita - carne, unhas e dentes. Não por causa da brutalidade do marido, mas por julgar ser prudente à mulher conservar os bons costumes. Sr. Antônio, o marido, empresário consagrado no ramo imobiliário, no início do casamento, vigiava constantemente sra. Raquel, a esposa. Após o terceiro mês de casamento, já tinha colocado um excelente detetive para seguir a mulher. Nesse período, fez questão de liberar o cartão de crédito a ela, mas as mulheres têm olhos oblíquos, não caem em qualquer cilada. Sra. Raquel adorava ler, antes do casamento fora uma exímia devoradora de obras, entretanto, após conhecer sr. Antônio já não sentia tamanha necessidade de leitura. Preferia estar do lado do marido, conversar sobre os negócios, mesmo não entendo os códigos usados por ele: trocava facilmente inflação por inflamação.  Passados os dois primeiros anos de alegria conjugal, invevitavelmente, a sra. Raquel  foi devolvida abruptamente a...

Safadina

A Sandy, as batatas! A Sandyjunior, as baratas! Ao amor, as devassas! Fada  Cafetina Safada Safadina

amor e só!

Foi ao banheiro fez amor lavou as mãos e foi dormir Produção coletiva: Eu, Matheus Padilha e Fernanda Padilha

proesia blogártica

posto: sempre mudo, não faço poema mudo.

status cu

afundado numa porção de caviar ah... nas paredes um-tanto-de-muitos livros que não li! meus carros vinhos ternos filhos minha loura, meu deus não creio em deuses mas visto ternos para almoçar mais tarde louras, freiras, padres, pastores políticos, joias, ouros, tolos, livros pai, mãe, filho, amigos, gays, lésbicas e cães satisfaço-me completamente

Merda e flor. Poetador

Merda e flor. Poetador Nu o poeta vai meio alamedas, bosques e buritis uma flor desabrocha enquanto o choro d'orvalho cai sobre o estrume uma, duas uma das duas palavras é a poesia que se esvai

poetador

catador do mundo caduco, mudo nu-canto gozo frenético de fala desordenada de cada um de vidas caquéticas que pululam verso a verso sem rima, métrica, sem nenhuma alegria organizo um adeus um oi, quem sabe, um além àqueles que não querem apenas dizer amém

poema tântrico

vou parir do peito um canto ininterrupto renascido dos gravetos  das cinzas de tirania dos seios de amor o todo magnífico poema trântrico de mim

Ponto

Ando circulando pontos em minha mente. Ponto, ponto sim. Mas, não se trata de uma interrogação. Não quero fazer nenhuma pergunta, Nem tava pensando em exclamação. Ponto. Ponto, ponto sim, mas final e não de interrogação. Não me enrole em reticências. Não somos adeptos a digressão. Ponto. Ponto sim! Se quiser pode ir embora. Este ponto é para agora. Ponto final? Ponto?! Nos ditos de outrora, Na distância da espera, Ou nas palavras esquecidas,  Aquecidas em pontos febris de ônibus, Há, ainda que curta,  a pausa de um quase pronto! É vírgula, ainda é uma vírgula! bato meu ponto em quase tudo Mas é a vírgula, esse mar finito Nesse céu de pequenas embarcações Que faz de tudo um quase ponto, Um quase nada, insiste em continuar. Está claro. Nesse canto, o pronto do ponto, não deixarei  pelos cantos. Ponto. Produção coletiva: Eu e Cacau Cruz. .

asas a quem sabe voar!

nasceu com terras para além dos pés maiores que duas ou três sesmarias dono do Pará-Jesus-de-Belém da Bahia-de-Antônio-Faz-o-Bem terras de horizontes, perdidas no além! Era Wesley de grana De gana, sem-freio Embora feio, casou-se com uma loira atração  mas gostava mesmo de negão ou de criancinhas, as de onze eram bem mais engraçadinhas já a loira, que topava qualquer posição preferia se ajeitar num elegante salão Ele, Wesley, de vida imaculada viu o anúncio da mega sena acumulada pulou do lençol comprou o bilhete e foi ver sol Cinco dias depois alguns zeros contemplados trilhonário fizeram-no ainda mais cobiçado um ser iluminado

lixão anhanguera

Lixão anhanguera não digo o que convém nem procuro espaços de gravatas os gabinetes são gelados demais para esse corpo que queima estou encaixado aqui, entre pernas e braços são tantos, que nem preciso me segurar eixo anhanguera, de baixo, de dentro, de lado, procuro a música (alguém se esqueceu dos fones de ouvido!) eita, sanfona brava com hora certa para chegar faz de todos, meras sardinhas com travas, se esfregando para não escorregar que ciclovia, que barato ontem um ciclista virou rato vai, desmancha, eixão mas deixa meu corpo de pé que fome requer pão vai, leva a mensagem ao patrão que se a manga não cai só o povo a derruba ao chão eita, deus dos eixos partidos que lixão! Fui convidado para participar do projeto Letra Livre , que levará poesia à linha de ônibus Eixo Anhanguera. Fiz o poema acima para ser declamado nesse evento. Esse poema foi publicado no Diário da  Manhã , no dia 15 de julho de 2011, página 18.

semáforo da sina

sinal senil fechado

deserto senil

De poeta ninguém precisa ninguém ensina é sina Guardanapo amassado guru grudado à pele que repele mas não sai

A SAGA DE ZÉ COM PITADAS DE JURANDI

A SAGA DE ZÉ COM PITADAS DE JURANDI Atira logo, home! (Cap. I) - A mesma poltrona velha... Tá, eu voltei para tentar conversar. Você sabe que quando venho assim é porque preciso falar. Não sei não, você parece que gosta de me ver meio desesperada... deve ser porque eu falo pelas pernas quando fico nervosa. Sinceramente, não me importo muito com seu juízo, falo mesmo, se quiser vai ser assim. Esses namoros, casamentos, em que não se ouve um mosquito sequer, parece enterro. Eu sou é viva! Nossa, Zé, essa poltrona tá fedendo bosta, joga fora, eu já falei, joga fora essa merda! Olha, fiquei vários meses passando na porta desse prédio e olhando pro outro lado. Hoje tentei não olhar, mas depois percebi que não tinha ninguém no balcão e resolvi entrar. Eu não vi a recepcionista, Zé, ela ainda trabalha aqui? Pois é, mas não estava lá, certeza que não... Nossa, eu entrei sem dizer "oi" pra ninguém, nem percebi quem passava. Sabe o copeiro, aquele que não deixou você ser estrangul...

Da MERDA ao caos

Após a morte de Bibica, as coisas tomaram rumos distintos. Primeiramente, os contratos publicitários foram interrompidos, os perfumes e os demais artigos de odor já não tinham a mesma aceitação como antigamente - até os jornais tinham cansado de publicar matérias sobre o caso Bibica. Depois de quatro meses do ocorrido, já faltava alimento, a energia e água estavam cortadas e meus vasos... até meus vasos não podiam ser utilizados - que falta fazia Bibica! Era preciso sair daquele ostracismo doentio! Procurei me reestabelecer... Meu abdome já estava duro, vários dias sem defecar. A verdade é que só usava o vaso quando saía de casa, porque meus sanitários lembravam Bibica. Passei a frequentar a casa de mamãe para usar o banheiro. Nesse período, observava como era explorado aquele espaço na casa, quem usava mais vezes, quem lavava as mãos etc. Nesses dias de retorno à sobrevivência familiar, recebi um convite para trabalhar com meus pais. Ficava no balcão da loja de mamãe, a...

Imagem e semelhança

Desse choro, a triste partida de Diadorim a morte, suicídio de mim Esse grito ferino que rompe couraças para fazer avalanches esse meu ser chinfrim (À Cacau Cruz e suas histórias de amor!)

Queda livre

Cansei do frio da cidade, das doces inverdades, e dos beijos sem paixão. Cansei de brincar de me esconder, de fingir não te querer, de não sentir bater meu coração. Sou como flor que brota, A demandar-te afeto, e o brilho do sol a surgir.... É nesse canto de grito, de berro, de choro, que seja! que vou vôo mesmo sem pestanejar ... Não preciso de pernas para sair do lugar! (Produção coletiva com a Cacau Cruz)

Pulo ou não, merda!

Acordei num bilhete vencedor de milhões (ganhei na mega sena!) saí pelos corredores do albergue gritando: -Ganhei, porra! Depois de toda a burro-cracia da Caixa-Nada-Econômica dinheiro na conta não pude economizar tempo - fui ao shopping O taxi parou do lado oposto à entrada principal fui ganhando rua, mas durante a travessia... percebi que não tinha ninguém com quem comemorar Era só! em minha própria alegria (nenhum carro para me atropelar!) Em bebidas e torresmos - torrava minha grana minha gana estava somente nas putas que ainda não tinha comido no vinho que não bebera no absinto: - só! não sinto minhas pernas... Quando o dinheiro acabou voltei à vidinha-de-merda-de-sempre Sozinho, sem grana e ainda sem ninguém para dividir absolutamente nada ... Lá embaixo tudo permanece transparente aqui, só! a dúvida: Pulo ou não, merda! Produção coletiva: Eu e Cacau Cruz

Poe, Poe, Poe - o homem bomba - Poe, Poe, Poe...

Fiz da vida proesia Por isso Escrevi aos poucos Poe mas Não deixei de criar

Sem pedigree

Perdi no esgoto um canino gritei entre perdigotos furtivos um amigo encontrei Perdido no esgoto percebi aquele suave perdigoto era mesmo sem pedigree Ao Filho da exclusão , MAIS um cachorro maldito

Ar... tim, latim, latindo, só!

sentido de só: dois caninos partidos ao meio isto é, palavra de língua morta única num dicionário inexistente